ACMA | HOBBIES & PASSATEMPOS | O Meu Yoga
A Primavera chegou e, com ela, trouxe um sentimento de energia renovada: a vontade de mergulhar mais fundo no yoga. No meu yoga. E Ă© dele que vos falo hoje, nesta nova participaĂ§Ă£o no Projecto A Cultura Mora Aqui (ACMA), que pretende descobrir mais sobre os nossos hobbies e passatempos.
SĂ£o seis da tarde. A minha casa estĂ¡ em silĂªncio. NĂ£o hĂ¡ muita luz, porque, hoje, por estes lados, o sol nĂ£o se deixou ver, apesar de ter lido pela Internet que a primavera chegou a muitos pontos do paĂs. EstĂ¡ frio. Vou buscar o meu tapete de yoga roxo, os meus blocos cinzentos e o meu cinto azul. Desenrolo o tapete pelo chĂ£o da sala e sento-me. Fecho os olhos. Apetece-me ficar sĂ³ aqui sem fazer nada, sem dizer nada, sem pensar em nada. Apetece-me ficar aqui a sentir, apenas. Primeiro, a minha respiraĂ§Ă£o. Profunda, a acalmar a pouco e pouco. Depois, todo o turbilhĂ£o de emoções que andam por aqui, que tĂªm andado: nĂ£o sĂ³ Ă flor da pele, mas em toda a sua profundidade. E Ă© isso mesmo que faço. Camada apĂ³s camada de pele vou descascando tudo. Vou deixando o meu corpo fragmentar-se, inspirand o, expirando, inspirando outra vez. Vou-me partindo em pedacinhos cada vez mais pequenos de pele e de corpo. Inspirando o ar da minha casa, que cheira a lavado, e expirando pedacinhos cada vez mais pequenos de coisas acumuladas, sujas, desnecessĂ¡rias. LĂ¡grimas, gritos, dores, memĂ³rias. Vou retirando o peso de tudo e vou ficando mais leve. Cada vez mais leve. E, de repente, sou sĂ³ um ponto de luz, a tentar livrar-se da escuridĂ£o que se acumula ano apĂ³s ano.
HĂ¡ pouco mais de trĂªs meses, eu era sĂ³ uma pessoa que achava que sĂ³ precisava de uma hora por semana de calma e de espaço para respirar e para estar focada em mim: depois, vivia o resto da semana agitada, nervosa, como sempre. Iludia-me muito. Todos os dias.
HĂ¡ pouco mais de trĂªs meses, era tĂ£o difĂcil chegar ao ponto em que me permito a sentir tudo aquilo que hĂ¡ para sentir. Era tĂ£o difĂcil permitir-me a estar ali: vulnerĂ¡vel e fragmentada. Ouvia as palavras daqueles que me tentavam guiar atĂ© ao lugar da leveza e pensava: "NĂ£o consigo. NĂ£o posso. NĂ£o quero chegar a esse ponto. NĂ£o me façam sentir isto. Quem Ă© que vos disse que me quero libertar do que tenho cĂ¡ dentro? Faz parte de mim. É aquilo que eu sou. SĂ£o as minhas coisas.". Queria ser "uma pessoa forte", queria ser "melhor", queria ser, na verdade, tudo menos eu e, de preferĂªncia, continuando a iludir-me, a arranjar escapatĂ³rias. Mas, depois, tornou-se tĂ£o necessĂ¡rio parar tudo: deixar-me ser vulnerĂ¡vel e fragmentada. Tornou-se tĂ£o necessĂ¡ria a comichĂ£o na garganta, que me fazia tossir em todas as posturas de yoga mas que me libertava e criava espaço para novas palavras e novos sons. Tornou-se tĂ£o necessĂ¡rio o nĂ³ na garganta que me sufocava mas que, aos poucos, me ensinava a pedir aquilo que sempre quis e a dizer aquilo que sempre precisei de dizer. Tornou-se tĂ£o necessĂ¡rio sentir as lĂ¡grimas quentes a escorrer pelo meu rosto, lĂ¡grimas de contentamento por estar, por fim, a partir a carapaça e a pedra que me envolvia e que eu nem sabia que tinha. Tornou-se tĂ£o necessĂ¡rio ter o meu coraĂ§Ă£o quente de felicidade.
Se, hĂ¡ dois anos atrĂ¡s, me dissessem que, dois anos depois, ia ser esta pessoa que sou agora eu teria rezado para que se enganassem. Eu resistia, sim. Contrariava-me. Contrariava a minha verdadeira natureza, as minhas necessidades, as minhas emoções. Fugia. E nĂ£o entenderia se me dissessem que desenrolando um tapete, fechando os olhos, respirando e carregando no botĂ£o "STOP" da vida que levo por uns momentos estaria a carregar no botĂ£o "PLAY" da vida que quero real e verdadeiramente levar.
Se antes eu achava que, para ser feliz, precisava de ser a minha definiĂ§Ă£o de forte e de estar segura de todas as minhas decisões, de ter o que achava que queria naquele momento no exacto momento em que queria, de me proteger na minha carapaça de todos aqueles que podiam atacar a minha vulnerabilidade, hoje, tenho a certeza de que nĂ£o podia estar mais errada.
Hoje, sei que ser forte Ă©, para alĂ©m de permitir-me a sentir o turbilhĂ£o de emoções Ă flor da pele e em toda a sua profundidade, libertar-me daquilo que Ă© desnecessĂ¡rio respiraĂ§Ă£o apĂ³s respiraĂ§Ă£o, criando espaço para novas vivĂªncias e para continuar o meu caminho. Ser forte Ă© permitir-me a fraquejar, a deixar-me ser vulnerĂ¡vel, a deixar-me inundar por todo este mundo cheio de outras pessoas maravilhosas e carregadas de ensinamentos, colocadas no meu caminho para me levarem mais longe e me fazerem mais feliz. Ser forte Ă© deixar-me ser o ponto de luz deitado no tapete, fragmentado.
Hoje, olhando para o presente, para o ponto de luz deitado no tapete roxo, vejo alguĂ©m que descobre, todos os dias, um caminho que vale a pena, alguĂ©m que aprende a apreciar os pontos mais escuros de si prĂ³pria e libertar-se deles quando Ă© chegada hora, alguĂ©m que consegue começar a ver com clareza, a sentir com amor. Vejo alguĂ©m que sabe que ainda hĂ¡ um longo caminho pela frente, alguĂ©m que estĂ¡ em pulgas para o percorrer. Vejo alguĂ©m com sede de aprender, de crescer mais, de desatar mais nĂ³s e de limpar mais janelas, para que fique tudo brilhante.
A minha prĂ¡tica de yoga começou por ser o meu hobbie: uma aula Ă quinta-feira, num estĂºdio no Campo Pequeno. Depois o Yoga mudou-me. Mudou-me sem eu sequer dar por isso. Questionou as minhas crenças, as minhas relações humanas, os meus gostos, as minhas necessidades. E dĂ¡-me tudo aquilo de que eu preciso para aprender a lidar comigo, com o mundo, com a vida e com os sentimentos, sensações e pensamentos de uma maneira mais consciente, mais grata e mais feliz. Hoje, sei que o yoga Ă© um estilo de vida: a forma como olho para mim, como reajo ao que me acontece, a calma que encontro depois de um grito de frustraĂ§Ă£o ou a vontade de parar e ouvir o meu coraĂ§Ă£o depois de uma tempestade de sentimentos.
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NĂ£o se esqueçam de visitar a pĂ¡gina do Facebook do projecto e ainda dar uma vista de olhos aos blogues participantes.
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