We are all one
Ontem, durante um jantar, dividido entre uma italiana, dois
portugueses (um deles metade brasileiro) e um britânico, ouvi várias vezes
alguns pré-conceitos associados aos cidadãos do mundo. Dei por mim a proferir frases como “Nota-se logo que
és italiana: basta olhar para ti a falar com as mãos.” e ouvi outras como “Isso
é porque vocês são ingleses: falam, falam mas só querem é ficar em casa sem
trabalhar.”. Pelo meio, ainda acusámos os americanos de serem pouco sociáveis e
bastante convencidos. No dia anterior, a minha professora de yoga disse-me,
durante uma conversa sobre alimentação, que, por ser portuguesa, eu não era de
certeza vegetariana.
Fui
para a cama a pensar na quantidade de ideias estapafúrdias que construímos acerca
dos outros. Achamos que os ingleses não têm piada, que são frios e distantes;
achamos que os japoneses só comem arroz com pauzinhos; que os australianos são
todos altos e louros. Fazemos piadas sobre a lentidão dos alentejanos e
rimo-nos dos que vivem no Este de Londres porque juramos a pés juntos que são “preguiçosos”
a falar, engolindo os t.
Não
que o façamos por mal. Na verdade, está-nos no sangue. Achamos nos outros
diferenças e agarramo-nos a elas para as usar como representação de cada
cultura. Sentimos que isso é necessário para justificar as divisões deste
mundo. Mas, na verdade, se pensarmos bem todos somos um pouco como todos os
outros.
Quantas
vezes são as que um lisboeta, tal como um east
londoner, dá por si a dizer as
palavras pela sua metade: shprar, sclher?
Quantas vezes não partilhamos gargalhadas, enquanto bebemos uma pint, com o nosso amigo inglês? Quantas
vezes não damos por nós aos berros, no meio do autocarro, a gesticular sem
parar, porque os gestos e a voz dão mais vida às histórias que contamos?
Tantas. Tantas vezes. A toda a hora.
Há
japoneses muito brancos. Australianos negros. Turcos de olhos azuis e cabelos louros. Senhoras indianas que, afinal,
são portuguesas como nós. Os italianos não comem só pizza e massa. Há
portugueses que sobrevivem sem carne e britânicos que comem mais do que ready meals. Há muçulmanos que vão a
Fátima e que abraçam cristãos. Cristãos casados com muçulmanos. Portugueses
altos e brasileiros que não gostam de funk.
E
desenganem-se: não vale a pena usar o argumento da maioria. É por nos
abraçarmos a essa ideia que acreditamos que o mundo é todo como o vemos. E não
é. O mundo é muito mais do que ideias que criamos no nosso imaginário. É por acreditarmos
nos nossos preconceitos que olhamos para o outro como se ele não fosse um de
nós. Porque, sejamos honestos, não faz mal ao mundo que achemos que um italiano
só come pizza, mas, ao acreditarmos piamente naquilo que se diz sobre os que praticam determinada religião, os que são de
determinada cor de pele, os que foram levados a imigrar pelas circunstâncias da
vida, acabamos a deixar o mal entrar no nosso coração. Criam-se fronteiras
físicas e mentais, fecha-se o mundo e acabamos sozinhos. E não é para isso que
aqui estamos. Todos nós pisamos o planeta terra. Todos nós temos os mesmos
sonhos: ser felizes e estar bem de saúde, ter uma família e um tecto. Todos nós
escutamos, à noite, antes de adormecer, o bater do nosso coração. E todos nós
sabemos que partilhamos esse som com cada ser, por muitos quilómetros que o
separem de nós.
Com amor,
Joana
Imagem retirada da Internet |
Estou totalmente de acordo contigo! Acabamos por ter um bocadinho de cada um, o problema é que nem sempre nos apercebemos disso, por isso é que depois dizemos que nós outros é que se encontram esses pontos diferenciadores.
ResponderEliminarr: Tinha saudades de te ler!
Obrigada, minha querida *.*
Precioso!
ResponderEliminarPrecioso!
ResponderEliminarMuito fixe! *
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