ACMA | SENTIMENTOS
Uma das grandes resoluções para o ano de 2017 é abraçar novos projectos: projectos que me façam sentir realizada, apaixonada, capaz. Projectos que mê dêem vontade de ligar o computador, pesquisar e escrever. No fundo, projectos a que tenha vontade de me dedicar de coração. Por isso, há umas semanas, entrei em contacto com a simpática Ju, do blogue Cor Sem Fim, e perguntei-lhe se podia participar no seu maravilhoso projecto: A Cultura Mora Aqui (ACMA).
Ora, o que é isto do ACMA? Acho que posso afirmar com certeza que todos nós, de uma maneira ou de outra, sentimos, pelo menos uma vez na nossa vida de atarefados bloggers, que há muito mais interacção em blogues de moda e lifestyle: estes são os blogues mais lidos, mais vistos e aqueles que conseguem fazer quantidades exorbitantes de dinheiro através de artigos patrocinados e histórias que tais. Pois bem, o ACMA pretende romper com a corrente e trazer mais cultura para a blogosfera. Aqui há espaço para cinema, música, livros, séries e tantas outras coisas interessantes que preenchem o nosso dia a dia. Porque nem tudo tem de ser sobre sapatos e maquilhagem.
Interessante, hein?
Em cada mês há um novo tema de que os participantes falam. Para este mês de Fevereiro, o mês do amor e o mês da minha primeira publicação para o ACMA, nada melhor do que escrever sobre SENTIMENTOS.
Para mim, o que mais me fascina neste tema não é só a pluralidade de sentimentos que habitam os nossos dias e, no geral, a nossa vida, mas sobretudo a forma como esses mesmos sentimentos chegam até nós e nos agitam, nos estimulam e nos fazem sentir. (Quem já me lê há muito tempo, sabe que "sentir" é, provavelmente, a palavra mais usada nos meus textos.)
Se nos mantivermos atentos, há tanto sentimento a cada segundo: a raiva, a paz, a tristeza, a dúvida, a felicidade, a amizade, o amor. Tanto amor. E todos eles nos chegam de todo o lado: uma mensagem de boa noite, um carinho, um sorriso de um estranho, uma pergunta colocada no momento certo, uma palavra rÃspida de alguém de quem gostamos ou de quem não gostamos nada, uma frase perdida num livro que lemos, um acorde de guitarra da nossa música preferida.
E depois há aqueles sentimentos inesperados que nos caem do céu através das formas mais estranhas: aquelas onde nunca pensámos encontrá-los.
Há menos de um mês, decidi passar um domingo enfiada em Brick Lane. Brick Lane é um dos sÃtios mais bonitos de Londres: fica no este da cidade e destaca-se pelas suas lojas de roupa vintage, os seus alfarrabistas carregados de palavras antigas, os restaurantes de muitas partes do mundo, e, sobretudo, pelos milhares de graffiti que cobrem cada centÃmetro das ruas. Foi exactamente aà que percebi a quantidade de sentimento que a arte urbana carrega. Decidi acompanhar uma excursão pelas ruas e deliciar-me com as explicações da simpática guia francesa. Não decorei o nome dela (vamos chamar-lhe Julie), mas a paixão com que falava de cada stencil, de cada tag, de cada pintura deliciava qualquer um. Apaixono-me pelas paixões dos outros e foi isso que aconteceu ali: ao ver os graffiti pelos olhos da guia francesa compreendi um bocadinho mais sobre arte e descobri que há sentimentos escondidos em cada pincelada.
Os artistas de rua, os graffiters, afirmam destacar-se dos vândalos porque arriscam-se em nome da sua paixão: não pretendem colocar o seu nome nas paredes, mas sim incitar ao debate, fazer pensar, desafiar as regras de uma sociedade organizada. É isto que Brick Lane nos transmite: em cada parede há uma questão a ser colocada, em cada tijolo há um desenho que nos faz pensar, em cada stencil uma sensação que nos percorre a espinha e, muitas vezes, deixa-nos com pele de galinha. Caras de polÃticos que se beijam na boca, uma despedida sentida a Prince, o monstro do capitalismo que devora moedas. Raiva, coragem, frustração, nostalgia. O abstracto a tomar forma e a ganhar cor.
Julie falou-nos de Milo Tchais, um artista brasileiro, de Otto Schade, chileno, e de Ben Slow, britânico. Contou-nos as histórias de cada um e de muitos mais graffiters. Falou-nos de conversas que tiveram, de histórias que partilharam, de pinturas que fizeram e da forma como cada um deles ama aquilo que faz. Irreverentes. Livres. Sem medos. Os olhos brilhavam-lhe enquanto falava.
Enquanto seguia a excursão, apreciava cada obra de arte e compreendia: o verdadeiro significado de cada graffiti eu nunca vou saber. Cada um deles esconde-se atrás de um manto de subjectividade. Aquilo que vejo em cada pedaço de cor é o que eu sinto dentro do meu coração: é aquilo que tenho dentro de mim. Um graffiti é, por isso, um espelho: um espelho que racionaliza aquilo que me faz sentir, um espelho que me ajuda a compreender os meus pensamentos mais profundos. O graffiti é, assim, uma viagem pelo interior de cada um de nós.
E não será esse o objectivo final da arte? Compreender. Descobrir. Supreender. E, mais do que tudo, sentir.
Blogues Participantes
Blogues & Youtube Convidados
E tu? Também gostavas de participar neste projecto? Se a resposta for positiva, então não esperes mais: envia já um e-mail para a Ju, através do correio electrónico corsemfim@gmail.com. Já sabes, não falaremos de moda nem acessórios, mas daremos banhos de cultura ao mundo dos blogues e bloggers. Ah, muito importante: se és Youtuber não te acanhes. Também tu podes participar neste projecto!
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